25/03/2009

CONHECIMENTO CIENTÍFICO II

Olá queridas e queridos,

boa tarde!

Segue uma análise do texto “O VALOR da ciência e da divulgação”, escrito por Francisco Ângelo Coutinho Filósofo da ciência e Rogério Parentoni Martins Professor de Ecologia e Coordenador e que consta no material desse curso da FGV que estou fazendo.

Em verde as partes do textos e em preto meus comentários.

O texto começa com uma citação de Kierkgaard, que, segundo a Wikipidia foi um teólogo e filósofo dinamarquês do século XIX, que é conhecido por ser o "pai do existencialismo", embora algumas novas pesquisas mostrem que isso pode ser uma conexão mais difícil do que fora, previamente, pensado”. (WIKIPEDIA, 2009).

“O sujeito (cientista), em seu relacionamento com o mundo (atividade científica), consigo mesmo e com o absoluto, nada encontra de firme. A existência é algo incerto e inseguro. (Kierkgaard) “. (COUTINHO e MARTINS)

”O conhecimento científico tem as qualidades de imperfeição e dúvida, por isso não há consenso na comunidade científica”. (COUTINHO e MARTINS) Concordo, assim como acontece com o conhecimento filosófico, teológico, empírico e tantos outros. Penso que não há consenso em qualquer comunidade humana, porque existirão tantas verdades quanto pessoas refletindo sobre o mundo. Realmente acredito que todos refletimos sobre o mundo, a vida etc. Cada um de sua forma, com sua maneira, com suas ferramentas e seus tempos... Não quer dizer que todo mundo produza ciência, até porque como vimos, a produção da ciência leva em conta todo um método definido.

Mas penso diferente do que o autor coloca sobre o desconhecimento do método científico levar à crença em superstições. “Um dos responsáveis pelo apego a superstições é o desconhecimento de como a atividade científica é desempenhada ”.(COUTINHO e MARTINS) Isso pode ocorrer sim, certamente, mas não é o único processo. Quer dizer, posso conhecer o método científico muito bem e optar conscientemente por não elegê-lo como forma de explicar o mundo para mim. Posso entendê-lo e colocá-lo no mesmo patamar que outros conhecimentos colocados como “supersticiosos” pelo autor. Posso optar por uma análise de mundo que não seja hierárquica e que leve em consideração todos os tipos de conhecimento disponíveis em meu contexto, inclusive meu conhecimento das “experiências da vida”.

“Tais imperfeições da prática científica têm justificado para alguns o aumento da propagação da crença em superstições ou explicações pseudocientíficas: se a ciência nem sempre está correta e não é uma fonte de riquezas morais, então o melhor é buscar uma ciência alternativa. Uma vez colocados em dúvida os conhecimentos científicos, abre-se o caminho para crenças sobre a vida emocional das plantas, continentes que emergem e afundam rapidamente, Terras ocas, canalização dos mortos, deuses astronautas, estupro astral, alienígenas entre nós, civilizações subterrâneas e criacionismo científico ”.(COUTINHO e MARTINS)

Fico pensando que o fato de uma pessoa não acreditar no conhecimento científico como único ou melhor que dispomos para “ investigar fenômenos naturais e fornecer soluções para problemas concretos”, não quer dizer que “caem no conto do vigário, crendo estar comprando livros com alguma informação sensata ”(COUTINHO e MARTINS), me parece que isso pode ser uma análise etnocêntrica sobre o valor da metodologia científica. Sim, existem “charlatanismos”, inclusive que usam do “método científico” para se justificar!!! Não necessariamente quem desconhece ou não entende como o conhecimento científico é adquirido, “acredita na ciência alternativa” (COUTINHO e MARTINS) ou em superstições é uma visão muito reducionista da coisa e muito prepotente sobre a ciência.

Os autores colocam que “ Desde os gregos, sabemos que o desejo de conhecer o mundo é inerente à nossa natureza. Por isso, pessoas que pagam por crenças e superstições, em boas livrarias, não devem ser consideradas ignorantes. Elas desejam sinceramente compreender e sondar o mundo ao seu redor, mas, por não entenderem como o conhecimento científico é adquirido, caem no conto do vigário, crendo estar comprando livros com alguma informação sensata ”.(COUTINHO e MARTINS)

Isso me leva a pensar na pedagogia proposta por Paulo Freire. O educador colocava que a educação libertadora encarna a busca permanente que fazem homens e mulheres, uns com os outros, no mundo em que e com que estão, de seu Ser Mais. Na educação libertadora, o homem e a mulher sociais estão em constante transformação. Homens e mulheres são seres inacabados e, portanto, em constante crescimento e aprendizado. O aprendizado deve se dar no concreto, na reflexão crítica do homem e da mulher a respeito da realidade, na expressão de suas raízes e vivências populares, na compreensão de sua condição de seres sociais (CASA BRASIL). Daí, Paulo Freire propõe uma prática educativa libertária em que "ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo."

Educadores e educandos compartilham conhecimentos na busca de sentidos comuns, exercitando diariamente o amor, o respeito, a compreensão e o diálogo. Isso não quer dizer que o processo educativo não tenha que ser planejado e conduzido de forma sistemática para a sua efetivação (CASA BRASIL). Ao contrário, para Paulo Freire, "a tarefa do educador é problematizar os conteúdos programados para os educandos." (in CASA BRASIL). Essa problematização centra-se no diálogo entre educadores e educandos a respeito dos temas referentes aos conteúdos, de forma relacionada à realidade e às condições do contexto socioeconômico e cultural dos educandos. “A educação libertadora se dá entre seres dialógicos, que privilegiam o diálogo como única condição para o conhecimento das pessoas e de tudo que as cerca, numa busca contínua de compreensão da realidade e aprendizagem nesse processo de compreensão”. (in CASA BRASIL)

Assim, os autores respondem a uma pergunta feita no início do texto: “Por que pessoas inteligentes ignoram certos conhconhecimentos científicos modernos e se apegam a crenças pré-medievais?”, com a seguinte indicação: “Uma das respostas é a de que o desconhecimento da capacidade explicativa limitada da ciência, abre caminho para a superstição. Quando uma pessoa adoece, ela pode tomar remédio, rezar ou ambos. Se ela reza e não toma o remédio é porque está convicta do poder curativo da reza e desconhece ou despreza um tratamento cientificamente comprovado”.(COUTINHO e MARTINS) Ou se ela apenas toma remédio é porque conhece um tratamento cientificamente comprovado ou não o conhece e acredita em sua eficiência porque o médico, que é um Dr. Estudado e intelectualizado, disse. Os autores no texto contam o caso de seres humanos usados como caobais para o estudo de certas doenças e a comprovação científica da eficácia do uso de determinado medicamento. Podemos analisar os resultados de pelo menos algumas maneiras. “ Seres humanos são usados como cobaias para estudar certas doenças, como ocorreu em Tuskegee, Alabama, de 1932 a 1972. Nesse estudo, foi informado a um grupo de 309 negros com sífilis e outro com 210 sem a doença, que estavam com o sangue ruim. A todos foi prometido tratamento (penicilina), mas recebiam somente água com açúcar. Em 69, morreram 28, em 72, 74, e, em 97, apenas sete sobreviveram (COUTINHO e MARTINS).

Podemos inferir que a penicilina é eficaz no tratamento da sífilis, podemos perceber que algumas pessoas morreram mesmo sem ter sifílis, mas essas pessoas podiam ter, por exemplo, Diabets, e morreram por conta de estarem tomando açúcar!!! Podemos ainda pensar que água com açúcar ajudou 7 pessoas a sobreviverem; podemos inferir que os que morreram não tinham fé e muitas outras coisas. Em fim, o que quero dizer aqui é que mesmo o método científico pode justificar outros pensamentos e conclusões não tão científicas assim.

O fato de desconhecermos os métodos científicos não quer dizer necessariamente que somos ignorantes e que não possuímos sabedoria ou conhecimento sobre as coisas. O fato de desprezarmos o conhecimento científico como único ou melhor também não nos faz ignorantes ou supersticiosos.

Fico pensando que o fato de percebermos o conhecimento científico como único ou melhor capaz de resolver os problemas da humanidade ou dar conta de nossa busca como seres humanos (que aliás deve existir bem antes da Grécia Antiga!), isso sim nos torna ignorantes, pois cria uma lente sobre o que vemos e observamos.

Os autores colocam ainda que uma das causas do problema da dificuldade em se perceber o valor da ciência é a linguagem hermética usada pelos cientistas. “Basta que mudem sua linguagem. É o mínimo que se espera numa democracia, onde as pessoas precisam se entender. Aliás, esse seria um serviço útil dos cientistas à própria compreensão da ciência que tanto prezam”(COUTINHO e MARTINS). Se esse fosse o maior problema, sua resolução seria fácil. Bastraia contratarmos tradutores, jornalistas, linguistas e o problema estaria resolvido. É claro que existe um problema de linguagem na transmissão dos conhecimentos gerados pela ciência, do método utilizado etc. E isso certamente leva a muitos não entenderem, desconhecerem ou mesmo desprezarem o conhecimento científico em detrimento de outros, supersticiosos ou não. Mas não podemos dizer que as pessoas acreditam nas tais “superstições ou pseudo-ciências” simplesmente porque são mais fáceis de ler ou entender. Mais uma vez estamos sendo reducionistas!

Entender, apreender e transmitir conhecimento, como colocado na unidade 3, são peças chave da educação e isso serve para o questionamento e o aperfeiçoamento do conhecimento apreendido e, portanto, para o exercício da cidadania. E esse exercício consiste inclusive em perceber e entender que o mundo não é feito de unidades, mas de pluralidades e que nada é superior a nada, mas sim, convivemos o tempo todo com as diferenças que existem dentro de cada um e nas relações com outros e com o mundo. Assim, a compreensão não deveria levar à escolha de uma visão de mundo, mas sim à percepção de como as visões se articulam e como podem contribuir conjuntamente para alcançarmos um mundo melhor e sim, cheio de diferenças!!!

Como diria Einstein “a imaginação é mais importante que o conhecimento”.

Bibliografia:
- EaD CASA BRASIL. Material da Oficina à distância Formação de Educadores Populares em Rede. Disponível em: http://cursos.casabrasil.gov.br. Acesso em: 25 de Março de 2009.

- COUTINHO, Francisco Ângelo e MARTINS, Rogério Parentoni. O VALOR da ciência e da divulgação. Jornal da ciência, Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, n. 420, set. 1999.

- WIKIPEDIA. Søren Kierkegaard. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%B8ren_Kierkegaard. Acesso em 25 de Março de 2009.

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